Mesmo com design arrojado e desempenho brutal, o Aston Martin Valkyrie está no centro de uma polêmica global. Um cliente europeu pagou cerca de R$ 17 milhões pelo hipercarro, mas rodou apenas 441 km antes de decidir processar a montadora.
O motivo? O motor V12 é tão barulhento que quase causou um acidente com uma ambulância. Além disso, o carro apresenta pane elétrica, superaquecimento e falhas no sistema hidráulico. A disputa judicial pode mudar os rumos dos supercarros de rua.
Um dos carros mais exclusivos já produzidos pela Aston Martin voltou ao centro de uma polêmica internacional. O modelo em questão é o Valkyrie, um hipercarro homologado para as ruas que agora se tornou alvo de uma disputa judicial entre a montadora britânica e um proprietário europeu. O processo alega falhas graves no veículo e levanta questionamentos sobre os limites entre desempenho extremo e usabilidade urbana.
A discussão foi provocada por um comprador alemão identificado sob pseudônimo. Ele afirma ter pago aproximadamente R$ 17 milhões por um Valkyrie em 2018. Desde a entrega, realizada em 2022, o carro rodou apenas 441 km. Mesmo com essa baixa quilometragem, o dono afirma ter enfrentado uma série de defeitos que comprometeram sua experiência e colocaram em risco sua segurança.
Além do impacto direto sobre a relação entre consumidor e fabricante, o caso reacende um debate já presente nos bastidores da indústria: até que ponto um carro com origem na engenharia de pista pode se adaptar à vida em cidades com regras e infraestrutura pensadas para veículos comuns?
Histórico e especificações do Valkyrie
O Aston Martin Valkyrie foi desenvolvido em parceria com a Red Bull Racing, unindo soluções típicas da Fórmula 1 com homologação para uso civil. Equipado com um motor V12 6.5 litros aspirado produzido pela Cosworth, o carro atinge até 11.000 rpm e conta com suporte de um sistema híbrido para gerar potência total de 1.176 cv.
O modelo pesa 1.355 kg e acelera de 0 a 100 km/h em pouco mais de 2,5 segundos, com velocidade máxima superior a 350 km/h. Apesar dos números voltados à performance, a Aston Martin garantiu que o Valkyrie estaria apto a circular legalmente nas ruas.
Com apenas 150 unidades fabricadas entre 2021 e 2024, o veículo se posiciona como uma peça de alto valor comercial e simbólico para o portfólio da marca. Porém, para seu proprietário, essa exclusividade não se converteu em confiabilidade ou conforto.
Problemas apontados pelo proprietário
O dono do Valkyrie afirma que o carro apresentou mais problemas do que todos os outros veículos de sua garagem combinados. Entre os defeitos citados estão falhas elétricas, superaquecimento no habitáculo e mau funcionamento do sistema hidráulico de suspensão.
O sistema em questão, chamado Rocket Locker, é responsável por manter a suspensão do veículo elevada quando ele está parado por longos períodos. O proprietário afirma que o sistema falhou, fazendo com que o carro “afundasse” ao perder pressão hidráulica.
Outro ponto citado envolve danos físicos durante o transporte para manutenção. Segundo o relato, o Valkyrie precisou ser levado para uma oficina, e durante esse processo houve avarias não especificadas.
Barulho e incidente com ambulância
O incidente mais crítico ocorreu em agosto de 2024, quando o proprietário relata ter quase se envolvido em um acidente por não conseguir ouvir a aproximação de uma ambulância. O motivo seria o ruído intenso gerado pelo motor V12 do Valkyrie, que ultrapassaria os limites legais de decibéis em vias públicas.
Como solução, a Aston Martin incluiu um sistema de captação de áudio externo por microfones, que deveria transmitir o som ambiente por fones de ouvido ao condutor. No entanto, o dono afirma que esse sistema falhou justamente quando era necessário.
De acordo com estudos técnicos citados na ação judicial, o barulho emitido pelo carro pode ultrapassar os 120 dB, nível comparável a uma britadeira. Esse patamar está acima dos limites definidos por entidades como a EPA nos Estados Unidos e por legislações urbanas na Europa.
Argumentos da Aston Martin
A fabricante britânica respondeu oficialmente às queixas afirmando que as supostas falhas se referem a características naturais de um veículo de altíssimo desempenho. Para a marca, carros como o Valkyrie exigem cuidados especiais e não podem ser comparados a veículos convencionais.
A empresa declarou ainda que, mesmo diante da proposta de devolução do carro, haveria uma cobrança estimada em R$ 375 mil referente aos 441 km rodados. A Aston Martin nega que os problemas configuram violação contratual.
Além disso, a fabricante contesta a validade do processo, já que ele foi iniciado na Alemanha. Segundo a Aston Martin, o contrato de compra estipula que qualquer disputa legal deve ser tratada no Reino Unido, onde a venda foi efetivada.
Implicações jurídicas
O advogado do comprador argumenta que seu cliente é protegido por normas europeias que garantem o direito de processar empresas no local de residência do consumidor. A defesa sustenta que a ação é legítima dentro do marco legal da União Europeia.
O andamento da causa será acompanhado de perto por outros proprietários e possíveis compradores de supercarros, pois pode gerar precedentes importantes. Uma decisão contrária à montadora pode influenciar futuras regulamentações sobre o que é permitido na classificação “street-legal”.
Há ainda o risco de o modelo ser restringido de circular em determinados países, caso autoridades locais avaliem que o Valkyrie ultrapassa os limites aceitáveis de ruído, emissões ou segurança para uso fora de pistas.
O papel das agências reguladoras
Nos Estados Unidos, a EPA e o DOT definem que veículos em aceleração não devem ultrapassar 95 dB em ambientes urbanos. O Valkyrie, segundo avaliações técnicas, ultrapassa facilmente essa marca.
A Organização Mundial da Saúde classifica como perigosos os níveis acima de 85 dB para exposição contínua. Ruídos muito intensos também podem afetar a capacidade de resposta a estímulos externos, o que pode comprometer a segurança no trânsito.
Na Europa, legislações locais podem proibir a circulação de veículos que não se enquadrem em padrões de emissões e ruído. Em alguns casos, mesmo a homologação internacional não é suficiente se o carro não respeita normas municipais ou estaduais específicas.
O dilema dos supercarros nas ruas

Esse caso amplia a discussão sobre até que ponto a engenharia automobilística pode evoluir sem ultrapassar os limites do uso cotidiano. Supercarros modernos desafiam padrões tradicionais, e isso inclui não apenas desempenho, mas também usabilidade e compatibilidade com ambientes urbanos.
A ideia de transformar um carro de corrida em um modelo de rua implica ajustes de engenharia, legalidade e conforto que nem sempre são plenamente executados. A distância entre o marketing e a experiência real do usuário, nesse caso, ficou evidente.
Com as tecnologias atuais, há uma linha cada vez mais tênue entre carros homologados e veículos de competição. Esse cenário exige atenção redobrada de fabricantes e autoridades quanto à responsabilidade envolvida em colocar esses modelos em circulação civil.
Possíveis impactos à imagem da marca
A Aston Martin tem investido nos últimos anos em modelos extremos para reposicionar sua identidade no mercado global. Casos como o do Valkyrie, porém, podem afetar esse movimento, especialmente se a decisão judicial for desfavorável à empresa.
Além do possível impacto financeiro, há o risco de a marca enfrentar ações semelhantes por outros compradores. A repercussão pode afetar também o desenvolvimento de futuros projetos da mesma natureza.
Por fim, o caso chama atenção para a necessidade de revisar protocolos de homologação e atendimento ao consumidor, considerando que a experiência pós-venda é parte essencial da jornada de quem investe em produtos de altíssimo valor.
Conclusão e próximos passos
O processo segue em andamento e ainda não há previsão de desfecho. Enquanto isso, o proprietário mantém o carro parado, sem utilizá-lo desde o incidente com a ambulância. Para ele, o veículo representa mais uma frustração do que uma conquista.
O caso pode abrir espaço para reinterpretações jurídicas sobre o que deve ou não ser permitido no uso público de veículos superesportivos. Seja qual for a decisão final, ela poderá gerar implicações diretas sobre projetos semelhantes no futuro.
Diante disso, o Aston Martin Valkyrie passa a ser não apenas um marco da engenharia automotiva, mas também um símbolo das complexidades envolvidas na convergência entre performance e segurança urbana.
Modelos usados dessa marca também são vistos no mercado de usados com questionamentos interessantes.
Fonte: 4 rodas