Foto: Ronaldo Gutierrez
Montagem dirigida por Nelson Baskerville discute antissemitismo, racismo e cancelamento
Quando escreveu “Professor Bernhardi”, em 1912, o dramaturgo austríaco Arthur Schnitizier pôs em discussão temas densos como antissemitismo, valores morais, religiosos, linchamento público midiático (hoje chamado de cancelamento) e a questão do aborto. O que na época foi apresentada como uma “comédia em cinco atos” na verdade é um drama profundo e bastante reflexivo. Sabemos que questões levantadas por Schnitizier atravessam décadas e numa “atemporalidade tóxica” estão na pauta do dia, principalmente o antissemitismo na irracional guerra entre Israel e Palestina.
Passados mais de um século, para ser preciso em 2019, o autor britânico Robert Icke repaginou, atualizou e aprimorou o texto de Schnitizier trazendo-o para nossos dias criando uma nova obra chamada “O Doutor”. Desde então teve montagens em vários países passando por Holanda, Alemanha, Índia, Estados Unidos, Grécia, China e Peru.
O texto de Robert Icke acaba de ganhar versão brasileira, com estreia em 20 de junho no Auditório do MASP, em São Paulo, tendo tradução de Diego Tesa e direção de Nelson Baskerville. Espetáculo da Cia Círculo de Atores, “A Médica” é idealização de Roselie Rahal Haddad e produção da SM Arte Cultura trazendo Clara Carvalho, Adriana Lessa, Anderson Muller, Chris Couto, Luísa Silva e elenco estelar.
O espetáculo é contemporâneo ao discutir temas odiosos que insistem em nos rodear como fake news, racismo, antissemitismo, haters e cancelamento nas redes sociais. No palco somos apresentados a Dra. Ruth Wolf (Clara Carvalho), renomada médica judia que dirige um instituto especializado em pesquisas sobre o Alzheimer.
Ao negar a presença de um padre católico no quarto de uma adolescente internada por um aborto mal realizado e em estado terminal, a médica se vê envolta numa disputa ética e moral com consequências dramáticas. Sua discussão com o padre foi gravada e jogada nas redes sociais. Isso desencadeia sérias e graves reações por parte dos profissionais da saúde, religiosos, internautas e grande mídia.
Segundo Clara Carvalho o texto passa por “várias ramificações de assuntos que estão altamente em evidência”. Por sua vez, Nelson Baskerville é só elogios para Robert Icke.
“O trabalho dele se baseia em realizar adaptação mais contemporânea de textos clássicos, inclusive está fazendo atualmente uma para “Édipo Rei”, de Sófocles. Ele mantém a espinha dorsal do autor original, porém adiciona elementos mais atuais. Nesta montagem, ele faz uma exigência de que alguns personagens tenham algo dissonante de gênero, raça ou idade do que estamos vendo no palco, uma característica que o público vai percebendo ao longo do espetáculo”, diz o diretor.
“A Médica” fica em cartaz no Auditório do MASP até 24 de agosto.
SERVIÇO
A Médica
Temporada: 20 de junho a 24 de agosto
Sextas e sábados: 20 horas
Domingos: 18 horas
Classificação: 14 anos
Auditório do MASP
Av. Paulista, 1578 – Bela Vista – São Paulo – SP
Inf: https://masp.org.br/espetaculos-eventos