O Projeto Nova Raposo recebe críticas da população por suas potenciais consequências ambientais, sociais e econômicas, que ameaçam transformar a paisagem e a qualidade de vida em mais de 11 municípios na região metropolitana de São Paulo.

Anunciado pelo Governo do Estado como parte do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI-SP), o projeto, liderado pela concessionária EcoRodovias, prevê a ampliação da Rodovia Raposo Tavares, a criação de novas vias, como a conexão entre a Raposo e a Regis Bittencourt, além de alterações em rodovias como a Castelo Branco e a Estrada da Roselândia (SP-29).
No entanto, a proposta tem gerado forte resistência de moradores, ativistas e especialistas, que alertam para os impactos devastadores sobre o meio ambiente, a falta de transparência e a ausência de soluções sustentáveis para mobilidade urbana.

RESUMO

O escopo do projeto Nova Raposo

Expansão e impactos planejados

O Projeto Nova Raposo, cuja concessão foi arrematada pela EcoRodovias em 28 de novembro de 2024 por R$ 2,19 bilhões, é uma iniciativa ambiciosa com um investimento estimado em R$ 7,3 bilhões. Ele contempla a construção de aproximadamente 78 quilômetros de faixas adicionais, sendo 34 quilômetros na Rodovia Raposo Tavares (SP-270), além de vias marginais, viadutos, túneis e a implementação de 13 pedágios no sistema “free flow” (cobrança automática sem cabines).
A proposta abrange municípios como São Paulo, Cotia, Embu das Artes, Itapecerica da Serra, Araçariguama, Barueri, Itapevi, Jandira, Osasco e Santana de Parnaíba.

O governo estadual, liderado por Tarcísio de Freitas, defende que o projeto visa melhorar a fluidez e a segurança no acesso à capital paulista, além de reduzir tarifas para usuários frequentes das vias expressas. Contudo, críticos argumentam que a iniciativa prioriza o transporte individual em detrimento de soluções coletivas, como metrô, veículos leves sobre trilhos (VLT) ou corredores de ônibus, e favorece a especulação imobiliária ao abrir caminho para construções em áreas de preservação ambiental.

A nova via Raposo-Regis

Um dos pontos mais controversos do projeto é a proposta de uma nova via conectando a Raposo Tavares à Regis Bittencourt. Essa ligação aproveitaria trechos de ruas existentes, ampliando-as de 7 metros (uma faixa por sentido) para mais de 25 metros, com duas faixas por sentido e um canteiro central.
Partes do traçado cortariam áreas de mata nativa, impactando diretamente a APA Embu Verde e a Reserva Florestal do Morro Grande.

Essa expansão ameaça corredores ecológicos essenciais, comprometendo a sobrevivência de espécies como onças-pardas, jaguatiricas, bugios, tatus e veados, além de aumentar o risco de atropelamentos e escassez de recursos naturais para a fauna local.

MANIFESTO AMBIENTAL EMBU ITAPECERICA CONTRA NOVA RAPOSO

Impactos ambientais alarmantes

O MANIFESTO AMBIENTAL EMBU ITAPECERICA CONTRA NOVA RAPOSO, liderado por organizações como a Sociedade Ecológica Amigos de Embu (SEAE) e a Preservar Ambiental, destaca os impactos ambientais devastadores do projeto.

Estudos técnicos realizados pela SEAE identificaram pelo menos 19 espécies de mamíferos na região que podem sofrer com o desmatamento de milhares de metros quadrados de mata atlântica, a interrupção de corredores de fauna e a contaminação de mananciais cruciais, como os da Represa Guarapiranga e do Baixo Cotia.
Esses mananciais abastecem água para milhões de pessoas diariamente, e a pressão por construções pode agravar problemas como o aterramento de nascentes e áreas de preservação permanente (APPs).

A nova via também ameaça intensificar riscos climáticos, como inundações e ilhas de calor, além de aumentar a poluição do ar devido ao maior fluxo de veículos, especialmente caminhões em alta velocidade. Especialistas, como o engenheiro civil Ivan Carlos Maglio, apontam que o projeto carece de um estudo de impacto ambiental robusto, violando regulamentações ambientais e desrespeitando a legislação vigente.

Ausência de consulta pública

Outro ponto central do manifesto é a falta de participação popular. Apesar de o projeto estar em desenvolvimento há quase um ano, com o contrato já formalizado, não houve audiências públicas suficientes em municípios como Cotia, Embu das Artes e Itapecerica da Serra.

As duas audiências realizadas, em São Paulo (28 de março) e Vargem Grande Paulista (3 de abril), contaram com menos de 60 moradores presentes, um número irrisório diante da escala do impacto, três audiências previstas na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) foram canceladas, reforçando a percepção de opacidade no processo.

O movimento Nova Raposo Não, apoiado por moradores e entidades, realizou uma pesquisa e revelou que 63% dos entrevistados desconhecem o projeto. Entre os que o conhecem, a maioria considera seus impactos negativos, especialmente pela priorização do transporte individual e pela ausência de investimentos em transporte coletivo.

Seminário na alesp discute consequências do projeto apresentado pelo Governo de SP

Debate na assembleia legislativa

Em 9 de abril de 2025, a Alesp sediou o seminário “Nova Raposo, Não”, organizado pela deputada Paula da Bancada Feminista (Psol). O evento reuniu especialistas, ativistas e moradores para discutir as consequências do projeto, com foco nos impactos ambientais e sociais. A iniciativa destacou a falta de transparência e a necessidade de alternativas sustentáveis para a mobilidade urbana.

Durante o seminário, Ivan Carlos Maglio enfatizou que o projeto descumpre a legislação ambiental ao avançar sem estudos de impacto adequados e consultas públicas. Ele alertou para o aumento do tráfego em áreas como Pinheiros e Butantã, a desapropriação de imóveis e o prejuízo a nascentes e córregos.
Já Maurício Ramos, coordenador do coletivo Águas Urbanas, destacou os impactos na hidrografia da região, reforçando a importância de proteger os cursos d’água contra os efeitos de uma obra rodoviarista.

A deputada Paula destacou a relevância de ouvir a sociedade civil: “Nosso mandato emprestou a voz para o Movimento Nova Raposo, Não, que luta contra os impactos que as transformações na Raposo Tavares trarão aos moradores.” Ela também criticou os custos adicionais que os pedágios imporão, estimados em até R$ 760 por mês para alguns moradores, além das questões ambientais e de desapropriação.

Propostas alternativas

Os palestrantes do seminário sugeriram soluções focadas em mobilidade urbana sustentável, como a implementação de corredores de ônibus, sistemas de BRT (Bus Rapid Transit) e VLT, além do redirecionamento de veículos comerciais para o Rodoanel. Essas alternativas poderiam reduzir o impacto ambiental e melhorar a acessibilidade sem comprometer áreas verdes ou comunidades locais.

Impactos sociais e econômicos

Desapropriações e custos para a população

O projeto prevê a desapropriação de cerca de 300 mil m², afetando comunidades como a dos Piemonteses, no km 17,5 da Raposo Tavares, onde vivem quase mil famílias. Casas, comércios, escolas e igrejas estão ameaçados, e os moradores relatam não terem sido consultados sobre as mudanças. Silvia Morello, ativista do movimento Nova Raposo Não, expressa a indignação da comunidade: “Eles alargam, desapropriam, colocam pedágios e o trânsito continua, os acidentes continuam. Não é isso que resolve.”

Os 13 pedágios “free flow” também preocupam, pois podem encarecer o transporte, impactando o preço de bens e serviços, como alimentos e passagens de ônibus. Moradores de áreas mais afastadas, que dependem de deslocamentos diários, enfrentarão um ônus financeiro significativo, sem garantias de que o trânsito será efetivamente aliviado.

O movimento Nova Raposo Não, com mais de 5 mil seguidores nas redes sociais, tem se fortalecido como uma voz de resistência. Apoiado por entidades como SEAE e Preservar Ambiental, o grupo oferece suporte técnico, jurídico e de comunicação para amplificar as demandas da população.

Um abaixo-assinado online (disponível em https://encurtador.com.br/ClxBd) busca pressionar o governo a rever o projeto, enquanto perfis no Instagram, como @novaraposonao, @seaembu e @preservarambiental, mantêm a comunidade informada e engajada.

Um chamado à ação

O Projeto Nova Raposo, apresentado como uma solução para o trânsito, revela-se uma ameaça à sustentabilidade, à biodiversidade e à qualidade de vida na região metropolitana de São Paulo. A ausência de consultas públicas, os impactos ambientais irreversíveis e a priorização do transporte individual em detrimento de soluções coletivas demandam uma resposta urgente da sociedade civil e das autoridades.

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