A morte de Leandro Abusado aos 40 anos pegou os fãs de surpresa e mergulhou o universo do funk carioca em luto. Conhecido nacionalmente pelo seu carisma e pela irreverência de suas músicas, Leandro não era apenas mais um nome no cenário musical dos anos 2000 — ele era uma verdadeira força cultural que influenciou uma geração de funkeiros.
Sua trajetória, marcada por altos e baixos, ficou ainda mais emblemática após sua batalha contra uma infecção rara e agressiva, a Síndrome de Fournier, que acabou tirando sua vida.
Vamos conhecer os bastidores da vida e carreira de Leandro Abusado, entender o impacto de sua música, a trajetória como funkeiro, o renascimento de sua fama por meio das redes sociais, e os detalhes dramáticos que cercaram seus últimos meses de vida. Tudo isso com base em fontes confiáveis e apresentado com uma linguagem acessível, direta e humanizada.
RESUMO
Leandro Abusado: A Ascensão de um Funkeiro Raiz
Um Nome, Uma Marca
Nascido Leandro Rogério Pereira Gama, ele adotou o nome artístico Leandro Abusado nos primeiros anos da década de 2000. Oriundo das comunidades da Zona Norte do Rio de Janeiro, Leandro não demorou a se destacar nas festas de bairro com seu estilo ousado, letras picantes e presença de palco magnética. Em uma época em que o funk ainda enfrentava resistência social e midiática, ele se posicionou como um dos porta-vozes de uma juventude que encontrava no ritmo uma forma de resistência cultural.
O Sucesso com “Aqui no Baile do Egito”
Da Furacão 2000 ao TikTok
O maior sucesso de Leandro Abusado foi, sem dúvida, o hit “Aqui no Baile do Egito”, lançado no auge do funk ostentação. A música misturava batidas aceleradas com referências exóticas e uma performance teatral nos palcos, o que rapidamente a transformou em um hino das noites cariocas.
Essa canção não apenas o consolidou no cenário do funk carioca, mas também o levou a dividir palco com nomes como MC Créu, DJ Zulu, e sua parceira musical Maysa, com quem formou a dupla “Leandro e as Abusadas”. Eles eram figuras constantes nos bailes da Furacão 2000, uma das maiores plataformas de divulgação do funk no Brasil na época.
Duas décadas depois, “Aqui no Baile do Egito” voltou à tona ao viralizar no TikTok, com danças e paródias que alcançaram milhões de visualizações. O revival surpreendente devolveu a Leandro parte do reconhecimento que havia diminuído com o passar dos anos.
O Enfrentamento com a Síndrome de Fournier
O Início dos Sintomas
Em março de 2025, Leandro apareceu nas redes sociais visivelmente debilitado. Com sinceridade tocante, ele contou aos fãs que enfrentava sintomas como inchaço na região íntima e dores intensas há semanas, mas demorou para procurar ajuda médica. Quando o fez, o diagnóstico foi devastador: Síndrome de Fournier — uma infecção bacteriana necrosante que ataca os tecidos moles da região genital, perineal e abdominal inferior.
A infecção é considerada rara e letal, frequentemente associada à baixa imunidade, diabetes ou má higiene. Segundo ele, os sintomas se agravaram rapidamente: “A bactéria penetra pela pele e se espalha. Se não cuidar, ela começa a comer a carne. Foi o que aconteceu comigo”, afirmou em um dos vídeos mais compartilhados daquele mês.
Internação e a Luta Pela Vida
Leandro foi internado no Hospital Municipal Francisco da Silva Telles, em Irajá, e passou por diversas intervenções médicas intensivas. A infecção, altamente agressiva, exigia cuidados cirúrgicos e medicamentos caros. Sem recursos financeiros suficientes, o artista iniciou uma vaquinha virtual para cobrir os custos do tratamento e alimentação, o que comoveu seus seguidores.
A campanha teve apoio de outros músicos e artistas, que divulgaram o link e enviaram mensagens de solidariedade. A comoção foi tanta que fãs de todas as idades começaram a compartilhar vídeos antigos, depoimentos e homenagens ao funkeiro.
Uma Despedida Marcante
O Adeus no Cemitério de Irajá
No dia 28 de julho de 2025, Leandro não resistiu às complicações da doença e faleceu. O enterro ocorreu no dia seguinte, no Cemitério de Irajá, sob forte comoção. Maysa, sua companheira de palco, declarou: “Ainda bem que consegui me despedir. Minha risada nunca mais será a mesma sem você”.
Outros nomes do funk, como MC RD, MC Créu, e a “Mãe Loira do Funk” Verônica Costa, também lamentaram a morte, destacando a importância cultural de Leandro e seu espírito alegre, mesmo nos momentos mais difíceis.
O Legado Cultural de Leandro Abusado
Mais que um Funkeiro: Um Símbolo
Leandro Abusado foi mais do que um artista de sucesso — ele representava um símbolo de superação, ousadia e representatividade para as comunidades periféricas. Seu estilo debochado e sua postura “abusada” incomodavam setores conservadores, mas também quebravam tabus e promoviam inclusão.
Sua música falava sobre liberdade, desejo, festas, mas também sobre identidade. Ele se apresentava com roupas chamativas, cabelos estilizados e coreografias teatrais, conquistando especialmente o público LGBTQIA+ e adolescentes que viam nele um exemplo de autenticidade.
Funk Carioca: A Alma de Leandro
O funk carioca foi a linguagem através da qual Leandro se comunicou com o mundo. Mesmo longe dos holofotes por um tempo, ele nunca deixou de compor, se apresentar e interagir com os fãs. Participava de lives, shows em comunidades e programas de rádio locais. Sua autenticidade nunca diminuiu.
A popularidade que retornou via TikTok e Reels reacendeu o interesse de uma nova geração pelo funk raiz dos anos 2000, e Leandro Abusado tornou-se referência de um tempo em que a música era menos algoritmo e mais emoção.
O Que é a Síndrome de Fournier?
Entendendo a Doença que Vitimou Leandro
A Síndrome de Fournier é uma forma grave de fasciíte necrosante localizada na região genital e perineal. A bactéria — geralmente um conjunto de microrganismos anaeróbicos e aeróbicos — entra no corpo através de pequenos cortes, abscessos ou infecções urinárias. Se não tratada com urgência, pode causar necrose dos tecidos e levar à morte em poucos dias.
Ela é mais comum em pessoas com comorbidades como diabetes, alcoolismo ou obesidade, mas pode acometer qualquer pessoa. Os sintomas incluem inchaço, dor intensa, odor fétido, febre e deterioração rápida da pele. O tratamento exige cirurgia para remoção dos tecidos necrosados, antibióticos intravenosos e, em alguns casos, internação prolongada em UTI.
Infelizmente, no caso de Leandro, o diagnóstico foi tardio, e a progressão da infecção rápida demais.
Homenagens e Repercussão
A Internet em Luto
Após sua morte, milhares de fãs prestaram homenagens em suas redes sociais. Vídeos de Leandro relatando sua luta viralizaram novamente, com comentários emocionados como “Você não merecia isso” e “Obrigado por marcar minha adolescência”.
A Furacão 2000, que o lançou ao estrelato, também publicou uma nota oficial de pesar, lembrando seu legado como “irreverente, autêntico e sempre fiel à sua origem”.
O Grito que Nunca se Cala
Leandro Abusado pode ter partido, mas seu impacto no funk carioca e na cultura popular brasileira continua reverberando. Sua morte trágica escancarou a vulnerabilidade de muitos artistas periféricos que, mesmo com fama, enfrentam dificuldades financeiras e estruturais para cuidar da saúde.
Ao lembrar de Leandro, não falamos apenas de um músico, mas de um símbolo de resistência, autenticidade e ousadia. O funkeiro, o homem, o amigo, o artista — todos esses papéis se entrelaçam para construir a figura de alguém que viveu intensamente, dançou com o perigo, e mesmo diante da dor, não perdeu o sorriso.
Fonte: G1