Número de animais abandonados é crescente em bairros de Caieiras

Número de animais abandonados é crescente em bairros de Caieiras

O caso é recorrente e o crescimento de pets abandonados na “Cidade dos Pinheirais” está causando preocupação. São cães e gatos de rua com visibilidade mais comuns nas paisagens urbanas, principalmente nos bairros de Laranjeiras, Vila Rosina e Jardim Morro Grande, segundo acompanhamento feito pelas redes sociais. Os apelos e pedidos de ajuda são inúmeros e a situação se agrava dia a dia, principalmente quando ocorrem atropelamentos e fatos que promovem comoção e, consequentemente, o desespero de pessoas que implorarem por auxílio.

Entidades, ONGs e protetores independentes tem papel importante e muitas vezes recebem críticas e apontamentos em razão da causa que defendem. É o caso da Soprac, Sociedade Protetora dos Animais de Caieiras, que traz detalhes sobre o trabalho que desenvolve.

Rita de Cassia Andrade Souza, presidente da entidade, foi procurada e revelou a atual situação que é crítica. “O número de abandono cresceu de maneira exorbitante. A gente não dá conta de recolher tantos animais. São muitos pedidos diários. Muitos citam que recebemos verba da prefeitura, mas a realidade é que não é suficiente”, disse.

Ela também explicou que já levou a situação ao conhecimento do prefeito Lagoinha. “Passei essa problemática para ele. Gastamos o dobro do que recebemos e não é possível dar conta”, disse Rita, confirmando que a Vila Rosina, o Jardim Morro Grande e Laranjeiras são os bairros mais problemáticos. “São bairros perto da estrada e de fácil desova. Dos resgates feitos nesse mês, cinco foram de atropelamento, o que gera um custo altíssimo. O abrigo fica lotado porque não conseguimos doar esses animais que estão em tratamento e não conseguimos recolher mais”, falou a presidente da Soprac.

Segundo Rita, hoje o canil acolhe 58 animais adultos e 19 filhotes. “Desses, 60 % são animais adultos, idosos e de comportamento não sociável dificultando a adoção, pois ainda existe muito preconceito na adoção de adultos”.
Nos últimos três meses, a ONG fez 47 resgates, 30 doações e 143 castrações. “Recebemos pelo menos cinco pedidos diários de resgate e não conseguimos atender a todos”, disse.

Rita comentou ainda uma situação desagradável e que ajudar a agravar o problema. “Muitos destes animais têm dono, mas infelizmente quando ele fica doente ou apresenta algum problema, querem se livrar do animal e terceirizar o problema empurrando para as ONGs e para o poder público, chegando a chantagear ao falar que se não recolhermos vão soltar na rua para morrer”, falou.

Filhotes fazem parte da estatística de abandono – Foto: Arquivo Pessoal

Outro fato que contribui e tira o controle é quando as pessoas dão água e comida. “Ao cuidar de um animal nas ruas, o pet passa a proteger o local e assim a querer morder pessoas”.
Rita de Cássia fez questão de revelar os custos e o quanto a ONG recebe da prefeitura, que atualmente, não é suficiente. “Recebemos R$ 39.890 de verba da municipalidade. Apenas esse mês foram gastos R$ 11 mil em cirurgias e esse valor tem variação. O custo com ração chega aos R$ 6 mil, fora cerca de R$ 12 mil com salários de funcionários, que são exigidos em contrato, R$ 2.500 de aluguel, cerca de 3 mil com medicação, 3.500 de impostos por não sermos totalmente isentos. Por mais ajuda que recebemos é inviável atender a todos”, finalizou.

Ela lembrou também que esse recurso só é liberado após vistoria e o envio de várias declarações exigidas pela prefeitura de Caieiras. “Existe um contrato e o dinheiro só é liberado mediante várias comprovações”, pontuou.

A presidente da Soprac também citou as castrações que poderiam ajudar, mas muitas pessoas agendam e não aparecem no dia. “A prefeitura divulgou que 700 animais foram castrados. Infelizmente, as pessoas não fazem sua parte e com isso quem sofre são os animais”, lembrou.

Abandono de cães é um problema a ser resolvido – Arquivo Pessoal

Por fim, chamou a atenção para a falta de punição. “Existem vários boletins de ocorrência registrados de abandono e maus-tratos. Todos identificando o proprietário. Eles são chamados para prestar esclarecimentos, mas não dá em nada. Ainda ouvimos de alguns: ‘fizeram eu perder meu tempo em vir aqui não vai dar em nada’. Enquanto não houver punição que mexa no bolso, a causa animal vai ser sempre ser vista como segundo plano”, declarou Rita, destacando que a situação só não está pior porque no município existem protetores independentes que fazem parte do trabalho da ONG e da prefeitura.

Protetores independentes

Caieiras conta com os protetores de animais independentes. Mas a situação é tão crítica com eles também.

Alice Ermelinda de Oliveira Silva realiza um trabalho com a mãe e conta as dificuldades enfrentadas. “Temos um projeto de alimentar os animais de Caieiras, mais precisamente, os de Laranjeiras. Já contabilizamos mais de 60 animais carentes que cuidamos da alimentação todos os dias”, disse.

Atual situação que é crítica em Caieiras – Foto: Arquivo Pessoal

A voluntária também tenta entender os motivos de tanto abandono de animais na cidade. “Caieiras virou um depósito de animais abandonados. Eu não sei o que está acontecendo”.

Uma solução sugerida por Alice seria um projeto de ajuda aos protetores independentes. “Eu acredito que a prefeitura deveria estabelecer uma proposta nesse sentido. Oferecer mais castrações ao longo do ano, além de campanhas de prevenção de abandono, como por exemplo, o ‘Dezembro Verde’, e o monitoramento por câmeras em lugares como Morro Grande que é o ápice de abandono”, falou.

Segundo ela, por várias vezes pediu ajuda de vereadores, mas não teve resposta. “Já pedi ajuda diversas vezes com veterinário, castrações e ração, pois cuido sozinha junto com a minha mãe e nenhum vereador responde.

Outra sugestão, é a distribuição de ração em pontos estratégicos para os animais de rua”.
Alice lembrou que é preciso que haja hospitais públicos veterinários, ambulância veterinária e estrutura para atendimento. “Ninguém lembra da causa animal. As denúncias também nunca resultam em nada, não tem um setor específico para cuidar dos animais em Caieiras”, falou Alice.

Outra moradora de Caieiras que coloca o coração a frente da causa animal e se vira com pode para contribuir é R.R. “Faço um trabalho individual e de ‘formiguinha’. Realizo vermifugação e alimentação no local, além de fotos e divulgação na internet para tentar convencer as pessoas a adotarem. Tudo por força de vontade porque não tenho ajuda financeira e nem espaço para isso”, disse ela que hoje tem 12 gatos em lar provisório.

Gatos também são abandonados com frequência. Esses estão em lar temporário – Foto: Arquivo Pessoal

A voluntária também chama atenção para a falta de conscientização das pessoas. “Muitos adotam e depois soltam na rua. Outro problema envolve a prefeitura e eles não resolvem. Ficamos à mercê de hospital particular que cobra quanto quer. Me viro fazendo rifas e outras ações para arrecadar alguma verba e me dedico muito para encontrar um lar para eles”, declarou.

A prefeitura de Caieiras foi procurada para se manifestar, mas não encaminhou resposta até o fechamento da edição.

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