Mulher, coração e vida

Mulher, coração e vida

Lamentavelmente, 3 em cada 10 futuras ou mamães com bebês até um ano morrem sem entrar nas estatísticas, o que cria um panorama distorcido, prejudicando a formulação de políticas e ações eficazes e resolutivas em saúde.

A sugestão do OOBr, Observatório Obstétrico Brasileiro, é que seja realizado um ajuste fino na metodologia de formulação para que o Brasil tenha a exata noção do que ocorre em termos de mortalidade materna. A importância da proposta se dá pela democratização do acesso a dados corretos, de maneira estruturada e com responsabilidade, de forma que todos interessados possam ter parâmetro preciso e gestores públicos tomem decisões baseados em evidências e orientem políticas públicas pautadas na análise de estatísticas confiáveis.

Atualmente, a subnotificação de casos falseia nossa real situação em relação à morte materna, que já é crítica mesmo sob à luz dos cálculos oficiais. Neste momento, aliás, nosso país está à distância abissal de cumprir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU). Quantificação preliminar do Ministério da Saúde da Razão de Morte Materna (RMM) de 2021 aponta 107 óbitos por 100 mil nascidos vivos, sendo que o compromisso do Brasil é a redução de 30 mortes/100 mil até 2030.

Outra grave questão de saúde que tira milhares de vidas de nossas mulheres são os eventos cardíacos. Até pouco tempo, havia o mito de que problemas do coração eram próprios dos homens. Uma realidade que se alterou bastante nas últimas gerações. Com a mudança no estilo de vida, elas passaram a exercer novos papéis e ocupar cada vez mais espaços, o que representa importantes conquistas.

Por outro lado, as rotinas e atribulações inerentes, atingiram diretamente a saúde do coração das mulheres, com o consequente aumento do risco de problemas cardíacos. Entre as brasileiras, principalmente acima dos 40 anos, as cardiopatias já chegam a representar 30% das causas de morte, a maior taxa da América Latina.

A Sociedade Brasileira de Clínica Médica, a qual estou presidente, tem uma campanha permanente para alertar nossas mulheres sobre a relevância de cuidar melhor da saúde do coração. Em boa parte, são medidas simples, como manter hábitos saudáveis, não fumar, se alimentar com equilíbrio e praticar atividades físicas. Por todo o exposto, cabe ao Estado se atentar com respeito e compromisso à saúde das brasileiras. É inadmissível vermos tantos óbitos facilmente evitáveis por falta de visão, compromisso e atitude.

*Antonio Carlos Lopes é presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica

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